segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

FRANKFURT

AEROPORTO DE FRANKFURT (CHEGADA)

Desembarquei em Frankfurt antes do horário previsto. A alfândega deles é super tranquila, sem cara feia ou longas entrevistas. Três perguntinhas em inglês, carimbo de entrada e um "welcome" com sotaque alemão.

Nenhum problema com minha mala. Já a do João apareceu com uma alça quebrada. Pode parecer uma bobagem, já que a alça retrátil e as rodas estavam intactas, mas isso foi um pequeno tormento na subida das escadarias de algumas estações de trem sem escada rolante.

ESTAÇÃO DE METRÔ

Do aeroporto, pegamos um trem para a estação central e, de lá, para a estação Grüneburgweg. No caminho, fui tomado por um sem fim de emoções. As árvores altas, negras, a paisagem bucólica, embora urbana, a arquitetura "casinha de chocolate", os tons impressos na natureza pelo frio.

Os bilhetes de metrô representaram o primeiro choque cultural que tive. Não porque fossem caros (1,60 euros), mas pela dinâmica da cobrança. São comprados numa máquina e portados durante o trajeto. Não há ninguém para checá-los. Ou seja, confia-se na civilidade dos usuários. A multa para quem for pego sem bilhete é de 20 euros, mas a fiscalização é raríssima.

Certa noite, depois de pegar o metrô na direção errada, decidimos voltar sem comprar o bilhete. No vagão, apenas nós e um grupo de jovens barulhentos. De repente, apareceu um funcionário do metrô. Ele vinha em nossa direção e meu nervosismo foi tanto que o João não conteve o riso. Mas ele passou direto. Tinha vindo só pedir ao grupo barulhento que se comportasse. Ou seja, não há fiscalização, mas com certeza há câmeras. Por que não cobraram nossos bilhetes, então? Nem quero saber. O fato é que o "jeitinho brasileiro" quase custou caro, literalmente.

ALMOÇO TÍPICO

A primeira coisa que comi em solo alemão não foi comida alemã. Fomos a um restaurante tailandês e pedi macarrão com camarão, mas era uma comida tão apimentada que quase não toquei no prato. A bebida, uma limonada, também não estava lá essas coisas.

Só no segundo dia, num restaurante tipicamente alemão, pude pedir linguiça e chucrute (Sauerkraut). Mas fiquei mesmo foi com vontade de avançar no prato da nossa anfitriã, a Jouse. Ela tinha pedido camalares (rodelas de lula empanadas). Provei um pouco e fiquei com tanta vontade que, em Londres, mandei ver. Comi tanto que ainda sinto o gosto.

Na noite de Natal, a Jouse serviu Glühwein e caiu como uma luva naquele frio intenso. No outro dia, dando uma volta, paramos para tomar uma caneca bem quente numa praça a caminho do rio Main. Nesse café, há fotos de alemães famosos que já passaram por lá. Não conhecia ninguém, a não ser a Angela Merkel, a primeira ministra.

PAISAGENS URBANAS

Do outro lado do rio Main fica um aglomerado de restaurantes e bares que é bastante movimentado à noite. Na volta de Londres, passamos pelo Hooters para comer um vício meu na viagem - chicken wings. Assim como calamares, procurei comer o máximo possível das asinhas de frango apimentadas, pois sabia que sentiria uma falta desgraçada quando voltasse ao Brasil.

A mobilidade urbana parece não ser um problema em Frankfurt. Não bastassem as ruas serem limpas, ainda são cuidadosamente divididas. O uso das bicicletas é super comum e não significa nenhum desprestígio. Tanto que em toda a cidade há barras para estacionamento. Em Londres não foi diferente. As pessoas vão de bicicleta até para a balada, à noite.

Só uma coisa me incomodou no trânsito europeu. Achei o tempo dado aos pedestres para a travessia muito curto. Em Frankfurt especialmente. Mal dá tempo de chegar na metade da faixa. Em alguns trechos é preciso se apressar.

E não tem a ver com poluição, mas me incomodou também a quantidade de cachorros na rua. Odeio cachorros. De morte! E estar numa loja, olhar para o lado e ser surpreendido por um monstro desses quase da minha altura foi uma prova de que de infarto eu não morro.

Quando estava prestes a viajar, dando aula, comentei com alguns alunos que viajaria com a missão de encontrar algum podre da Alemanha. Não queria crer que tudo fosse realmente limpo. Um aluno até brincou dizendo que mesmo se eu não encontrasse, ia acabar eu mesmo jogando um monte de lixo num canto e fotografando. O fato é que não encontrei nada. Ruas impecáveis.

Para não dizer que não encontrei nada, vi duas pichações. Uma na entrada do prédio onde a Jouse mora, uma palavra, não lembro qual, mas que a Jouse disse que significava "cultura"! A outra é a da foto e não sei o que significa.

Enfim, poluição não há, seja ela de lixo, visual ou sonora. Ao menos não que eu tenha visto. As ruas niveladas ajudam a aumentar a sensação de organização, bem como a ausência dos fios de energia cruzando o céu, uma vez que são subterrâneos. Som nas ruas só mesmo o dos artistas. E artistas mesmo.

CENTRO FINANCEIRO

Sempre que os telejornais apresentavam os indicadores econômicos, lá estava Frankfurt como uma das referências mundiais em bolsa de valores. Tanto que a bolsa de lá tem como símbolos o touro e urso, figuras fortes e amedrontadores.

O prédio da bolsa de valores e os do entorno são repletos de referências à força. Mas não fotografei essa colunas por isso. Chamou a minha atenção o cuidado com a arte, mesmo nos ambientes mais triviais. Isso causa uma diferença enorme no aspecto urbano e tem um impacto positivo, mesmo que muitas vezes inconsciente, na qualidade de vida.

DOM

É engraçado porque, ao mesmo tempo em que se mostram sisudos e tradicionalistas, os alemães tem um lado bem irreverente. Essa loja é uma prova. Há um sem fim de produtos com designs loucos, desde material de decoração a jóias.

SEGURANÇA

Tendo sido assaltado três vezes (duas com arma apontada para a minha cabeça), não foi fácil andar à noite pelas ruas de Frankfurt sem me tremer de medo (e, claro, de frio). O João ria muito. Eu não conseguia relaxar nem para rir de nervoso. Na terceira noite, no entanto, eu já estava me sentindo à vontade, embora o receio continuasse.

Sinceramente, quero crer que a paz que experimentei não tenha sido "sorte" de um turista que passou pouco tempo na cidade. Adoro lugares calmos, sobretudo na hora do lazer e do descanso. À noite, o silêncio era completo. Nem sequer um sonzinho de passos na escada ou vozes na rua.

LARGO DA PREFEITURA

Essa aí é a prefeitura de Frankfurt. Na frente, havia uma árvore de Natal natural enorme, repleta de enfeites. Mas também era o único enfeite de Natal na cidade toda, tirando algumas vitrines de loja.

O espaço logo em frente à prefeitura é de um charme acolhedor. Tem-se a impressão de se ter voltado no tempo.

Descendo pela rua em frente à prefeitura, chega-se ao rio Main. PONTE E RIO MAIN

Quando se pensa em fazer uma viagem à Europa, tem-se como motivo algumas imagens específicas. Uma dessas imagens que eu tinha era a de um rio largo e de margens arborizadas. Daí meu transe ao avistar o Main pela primeira vez. Uma visão que vou levar comigo para o resto da vida, só que não será mais imaginação. Foi (é) real.

Fazendo pesquisas antes da viagem, fiquei em dúvida do porque do nome "Frankfurt" vir seguido de "am Main". Foi o Rui, um colega que ensina alemão, quem me explicou. Esse "am" se refere a algo que está à margem e "Main" é o rio que corta a cidade.

É tradição prender um cadeado na ponte para que se volte ali um dia. Não o fiz. Mas como não sou supersticioso, hei de fazê-lo mesmo sem mandinga.

Da esquerda para a direita: eu (embasbacado), Jouse (nossa anfitriã), Stewart (namorado da Jouse), o João e Daniel (amigo alemão do João).

A Jouse não foi apenas uma anfitriã. Foi uma mãezona. Jamais vou esquecer os cuidados dela com a gente. O Stewart não fica atrás. Me diverti muito jogando video game e xadrez dos Simpsons com ele. Sem falar que comecei a praticar meu inglês ali mesmo, em Frankfurt.

Ficou o sonho de ter um espaço desse perto de casa para caminhadas no fim da tarde ou para simplesmente sentar num banco e ver o tempo e a água passando.

CASA DO GOETHE

No Brasil, os únicos escritores cujas casas tive a oportunidade de conhecer foram José de Alencar e Augusto dos Anjos. No entanto, não foi uma visita ao "lugar" dos escritores propriamente dito, pois muita coisa havia mudado desde a morte deles.

Por isso minha excitação ao conhecer a casa de Goethe. Tudo estava preservado de uma maneira assustadora. Deu para sentir toda a aura que ele com certeza experimentou ao morar ali e ao buscar inspiração para seus livros.

Essa era a prensa usada por ele. Imaginei "Fausto" ou "Os Sofrimentos do Jovem Werther" sendo impressos ali, a ansiedade do escritor para ver seu trabalho materializado, multiplicado.

Nós, posando de ilustres convidados de Goethe para um sarau.

A entrada sombria.

O jardim macabro.

Ao lado da casa foi construído um museu com obras de arte colecionadas pelo Goethe, dentre outras. Essa foi a que mais prendeu minha apreciação. É de Johann Heinrich Füssli, um pintor suíço. As obras de Shakespeare eram uma de suas inspirações. O quadro se intitula O Pesadelo (Der Nachtmahr).

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